quinta-feira, 19 de abril de 2012

EDUCAÇÃO FISICA ADAPTADA




INTRODUÇÃO
A filosofia subjacente de orientação da educação da
pessoa com deficiência, nos tempos recentes tem
levado a que as grandes linhas de investigação
apontem para a maior autonomia da pessoa com
deficiência.
Neste contexto, julgamos que as respostas
encontradas levam a procurar uma maior
participação da pessoa com deficiência na sociedade.
Contudo a referida participação tem sido abordada
no sentido de uma colaboração e não de uma
efectiva participação interventiva. Este aspecto, é
devido em parte, ao facto que a pessoa com
deficiência não ter sido chamada para contribuir
nesse mesmo processo. Em nosso entender o direito
de opção, de escolha e de intervenção por parte da
pessoa com deficiência, é fundamental.
Nesta perspectiva, a pessoa com deficiência tem que
ser chamada a contribuir com o seu saber empírico,
isto é, a dar sua própria opinião.
Por outro lado os investigadores até à década de 80
estudavam os assuntos fechados na sua área de
saber. Hoje tenta-se abordar os mais variados
aspectos de estudo conjugando várias áreas de
investigação, fazendo cair as barreiras e, assim,
enriquecer as respostas. Este facto, leva à existência
de interfaces das áreas do saber académico e
profissional, que em nosso entender vão ajudar de
uma maneira decisiva a resolver aspectos que até ao
momento não o foram como a homogeneidade da
terminologia, da limitação da população alvo, da
metodologia de ensino que deve ser  partilhada de
uma maneira uniforme, de estudos das provas e
aparelhos para avaliar a pessoa com deficiência nas
diferentes vertentes e das ajudas técnicas para a vida
Actividade Física Adaptada: uma visão crítica
Urbano Moreno Marques
José Alberto Moura e Castro
Maria Adília Silva
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto
diária, do ensino, do desporto e da Educação Física.
Especificamente em relação à área do desporto
pensamos que os aspectos menos estudados são o
treino desportivo, as técnicas de intervenção, e as
próprias modalidades.
A organização da actividade desportiva continua a ser
debatida no sentido de procurar a maneira mais
correcta de definir os locais de prática e com quem
deve ser realizada. A classificação desportiva também
continua a ser polémica sendo, no entanto, um dos
temas que mais tem sido abordado pelos estudiosos.
As áreas mais recentes de estudo e que começa a
preocupar os investigadores nas seus mais variados
aspectos são a Terceira Idade, aspectos patológicos, e
a Recreação e Tempos Livres de pessoas com
deficiência.
EVOLUÇÃO
A actividade física para a pessoa com necessidades
especiais tem vindo a ser alvo das mais variadas
atenções. Exemplo disso é a Carta Europeia do
Desporto para Todos: as Pessoas Deficientes (1988),
do Conselho da Europa, que reconhece a actividade
física como “um meio privilegiado de educação,
valorização do lazer e integração social”(2)
.
Potter, como elemento do Comité para o
Desenvolvimento do Desporto do Conselho da
Europa, define esta actividade física como uma gama
completa de actividades adaptadas às capacidades de
cada um, particularmente ao desenvolvimento
motor, à Educação Física e a todos as disciplinas
desportivas (14)
.
Por outro lado, vários autores (3, 8, 18)
 consideram
que a actividade física adaptada (na medida em que
se aplica a pessoas sem possibilidades de a
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2001, vol. 1, nº 1, 73–7


URBANO MORENO MARQUES, JOSÉ ALBERTO MOURA E CASTRO, MARIA ADÍLIA SILVA
praticarem em condições normais) está limitada aos
indivíduos deficientes reconhecidos pela
Organização Mundial de Saúde (12)
 e expressa-se em
três dimensões, designadamente a competitiva, a
recreativa e a terapêutica. A estas vertentes
acrescentou o Comité para o Desenvolvimento do
Desporto, em 1981 (1)
, a educativa. De salientar que
idêntica concepção nos apresenta a Federação
Portuguesa de Desporto para Deficientes (4)
.
Contudo, observamos, segundo as conclusões do
Seminário “A recreação e lazer da população com
necessidades especiais” (Faculdade de Ciências do
Desporto e de Educação Física da Universidade do
Porto, 2000), que as dimensões competitiva,
educativa e terapêutica prevalecem sobre a recreativa.
Porém, estamos hoje muito longe, neste campo da
reabilitação, do que aconteceu nos primórdios da
humanidade e nos primeiros séculos da civilização.
Segundo Lowenfeld e Kirk e Gallagher podemos
reconhecer quatro grandes períodos de
desenvolvimento das atitudes em relação aos
indivíduos com necessidades especiais, os quais
correspondem a fases distintas da história (6, 9)
.
1º Período: Separação
Na maioria das sociedades primitivas o deficiente
era visto com superstição e malignidade. Nesta
época o conhecimento centrava-se no pensamento
mágico-religioso, o qual explicava e continua a
explicar muitos dos acontecimentos do dia-a-dia do
homem primitivo.
Já no início da Idade Média foi aceite uma relação de
causalidade entre demonologia e anormalidade (7)
.
Posteriormente, este sentimento de horror em
relação à deficiência foi dando lugar ao sentimento
de caridade, o qual corresponde ao início da era da
protecção.
2º Período: Protecção
Esta concepção apareceu com o desenvolvimento das
religiões monoteístas. Fundaram-se asilos e
hospitais onde os deficientes eram recolhidos. No
entanto era ainda prática comum mutilar ou cegar
indivíduos que cometiam graves delitos.
Nos finais da Idade Média, através das ordens
religiosas, foram criados vários hospícios onde os
deficientes eram assistidos, basicamente em
questões de alimentação e vestuário. Acreditava-se,
ainda, que tratando bem os deficientes, os idosos e
outros carenciados se obtinha um lugar no céu.
Com o aparecimento do movimento reformista da
Igreja surge uma nova visão sobre os deficientes.
Passaram a ser encarados como um indício do
descontentamento divino, sendo novamente
relegados para um plano inferior. Só mais tarde
começaram a surgir as primeiras tentativas ao nível
da sua educação, as quais traduzem já o início do 3º
período.
3º Período: Emancipação
Com o novo interesse criado pelo Renascimento em
estudar o homem, a industrialização e a consequente
falta de mão de obra, bem como o aparecimento de
deficientes ilustres, nomeadamente cegos, foi dado
um grande impulso na sua educação, influenciando
decisivamente os pioneiros da Educação Especial.
Assim, foi necessário chegarmos ao último quartel
do século XVIII, com o surgimento das ideias
iluministas da Revolução Francesa, para que os
problemas da deficiência começassem a ser
encarados e encaminhados por uma via mais racional
e mais científica (16)
.
Foram sobretudo alguns médicos da escola francesa,
como Esquirol e Morel, e alguns médicos da escola
alemã, como Griesinger e Kretschmer, que tiveram o
mérito de chamar a atenção para a necessidade de os
problemas da deficiência passarem a ser observados
à luz de novos factos científicos de carácter
psicofisiológico e etiopatogénico (5)
.
Por conseguinte, é o ano de 1801, com Itard e a sua
primeira tentativa para educar um deficiente (Victor,
o selvagem de Avignon), que é apontado como o
início da Educação Especial propriamente dita (13)
.
No entanto, só mais tarde, com o aparecimento da
Lei da Educação Obrigatória para Todos, o problema
da educação da criança deficiente começa a ser
verdadeiramente questionado.
Já nos finais do século XIX a Educação Especial
caracterizava-se por um ensino ministrado em
escolas especiais em regime de internato, específicas
de cada deficiência (escolas que se destinam ao
atendimento de crianças e jovens deficientes visuais,
auditivos, intelectuais, motores e autistas), embora
existissem defensores do sistema integrado (apoi

Actividade Física Adaptada: uma visão crítica
prestado a crianças e jovens com problemas
educativos especiais inseridos a tempo total ou
parcial em classes regulares, visando a sua
integração escolar, familiar e social) e fossem
aparecendo outras formas de atendimento como o
semi-internato, a classe de aperfeiçoamento e a
classe especial (classe que funciona no edifício de
uma escola regular, mantendo-se os alunos nessa
mesma classe durante todo o tempo lectivo).
Aparecem as primeiras tentativas de explicação e
classificação dos diferentes tipos de deficiência,
bem como os primeiros estudos científicos nesta
área. E é nesta fase de grande optimismo e
desenvolvimento que surge o quarto período, ou
seja, a etapa da integração.
4º Período: Integração
O conceito de integração, já defendido por alguns
autores nos finais do século XIX, é finalmente posto
em prática em pleno século XX. Este confere ao
deficiente as mesmas condições de realização e de
aprendizagem sócio-cultural dos seus semelhantes,
independentemente das limitações ou dificuldades
que  manifesta.
A segunda metade do século XX caracterizou-se,
entre outros aspectos, por um certo desafio que o
conceito de normalização trouxe à sociedade.
Wolfensberger definiu normalização como sendo a
“utilização de meios tão adequados, quanto possível,
para estabelecer ou para manter comportamentos e
características que são de natureza cultural”(20)
.
Para Mikkelsen, “normalização não significa tornar
normal o diferente, mas sim criar condições de vida
semelhantes às dos outros elementos da sociedade,
utilizando para o conseguir uma grande variedade de
serviços existentes nessa mesma sociedade”(11)
.
No entanto, a ideia principal contida no conceito de
normalização encontrava-se já subjacente, desde
1948, na Declaração Universal dos Direitos do
Homem, quando aí se afirma o “direito de todas as
pessoas, sem qualquer distinção, ao casamento, à
propriedade, a igual acesso aos serviços públicos, à
segurança social e à efectivação dos direitos
económicos, sociais e culturais”.
Segundo Sousa, “temos de criar as condições para
atingirmos as metas da «total participação» e da
«igualdade de oportunidades» para as pessoas
deficientes, proporcionando-lhes o seu direito de
compartilharem a vida social normal da comunidade
na qual vivem e de usufruírem as condições de vida
semelhantes às de qualquer outro cidadão”(17)
.
A igualdade que se pretende, como ponto de partida e
como meta, não deverá ser entendida como sinónimo
de normalização absoluta. A igualdade terá de ser
construída através da afirmação do direito à diferença.
Com isto pretendemos dizer que devemos criar
situações o mais variadas possível para que
indivíduos ditos normais e em cadeira de rodas, por
exemplo, tenham as mesmas possibilidades.
Construir um edifício com larguras de portões
diferentes é criar a igualdade de acesso a todos, isto
é, para haver igualdade têm de existir diferenças.
É neste contexto que aparece, com a Declaração de
Salamanca, em 1994, o quinto e último período (por
nós considerado), ou seja, a inclusão.
5º Período: Inclusão
O conceito de escola inclusiva teve a sua origem na
Declaração Universal dos Direitos do Homem
(1948), na Conferência Mundial sobre Educação
para Todos (1990) e nas Normas das Nações Unidas
sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas
com Deficiência, de 1993.
No entender de Mayor, a conferência mundial sobre
necessidades educativas especiais ao adoptar a
Declaração de Salamanca sobre os princípios, a
política e as práticas na área das necessidades
educativas especiais “inspirou-se no princípio da
inclusão e no reconhecimento da necessidade de
actuar com o objectivo de conseguir escolas para
todos, isto é, instituições que incluam todas as
pessoas, aceitem as diferenças, apoiem a
aprendizagem e respondam às necessidades
individuais”(10)
.
Assim sendo, as sociedades contemporâneas
distinguem-se, em grande parte das anteriores, pela
afirmação do respeito pela dignidade humana e pela
garantia de que ao portador de qualquer necessidade
especial lhe será permitido integrar-se nas diversas
metas do funcionamento social sem qualquer
barreira psicológica ou física.
Aliás, é essa uma das exigências da nossa actual
Constituição.
Concretamente, para estes indivíduos deverão ser
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2001, vol. 1, nº 1, 73–79
revista 75 13.2.04, 16:2276
proporcionadas condições que lhes permitam atingir
as seguintes metas (5)
:
– cuidar de si;
– tornar-se independente no quotidiano;
– participar na vida familiar e em actividades de
tempos livres;
– manter contactos sociais;
– obter rendimento nos estudos e no trabalho;
– manter relações afectivas e vida sexual;
– poder assumir o papel de progenitor.
Podemos dizer, numa linguagem simplista, que é
através da segurança social, da educação, da
formação profissional e do emprego, entre outros,
isto é, da reabilitação, que essas condições poderão
ser desenvolvidas e que poderá ser encontrado o
verdadeiro enquadramento da pessoa com
necessidades especiais na sociedade.
Postas as coisas deste modo, devemos actuar, por um
lado, ao nível da prevenção e, por outro, assegurar a
cada pessoa o usufruto de todo e qualquer serviço de
reabilitação, sempre com o espírito de que o meio
social faz parte integral do processo.
Todavia, a palavra reabilitação não teve sempre o
mesmo significado ao longo da história da
humanidade.
A prática tradicional considerou-a como sendo um
modelo de terapias e serviços destinados às pessoas
deficientes, numa estrutura institucional, muitas
vezes sob a égide da autoridade médica.
Esta situação tem sido gradualmente substituída por
programas que, embora continuem a prestar serviços
médicos, também contemplam serviços sociais e
pedagógicos qualificados.
Para a organização Reabilitação Internacional, o
conceito de reabilitação deve ser entendido como
“um processo em que o uso combinado e
coordenado de medidas médicas, sociais,
educacionais e vocacionais, permite aos indivíduos
com deficiência alcançar níveis de funcionamento o
mais elevados possível e, em simultâneo, se
integrarem socialmente”(15)
.
Em Portugal, em Maio de 1989, é proclamada a Lei
de Bases da Prevenção e da Reabilitação e Integração
das Pessoas com Deficiência (Lei nº9/89), a qual
concebe a reabilitação como sendo “um processo
global e contínuo destinado a corrigir a deficiência e
a conservar, desenvolver ou restabelecer as aptidões
e capacidades da pessoa para o exercício de uma
actividade considerada normal. Engloba um conjunto
variado de acções de prevenção, de reabilitação
médico-funcional, de educação especial, de
reabilitação psico-social, de apoio sócio-familiar, de
acessibilidade, de ajudas técnicas, de cultura, de
desporto e de recreação, entre outras, que se
destinam ao deficiente e que visam favorecer a sua
autonomia pessoal”.
Assim, reabilitar perdeu o seu significado restrito de
“habilitar de novo”. Do tornar o deficiente capaz de
realizar novamente uma tarefa, passou a reabilitação a
ser encarada como um processo que visa a integração
total da pessoa com necessidades especiais.
Por outro lado, a educação especial acompanhou
muito de perto a evolução do conceito de deficiência.
Começou com características essencialmente
assistenciais, desenvolveu-se ao longo dos tempos e
hoje procura manter o indivíduo em processos
educativos normalizados, através da sua integração.
Este conceito de inclusão só será significativo
quando for entendido como a solução, não
necessariamente exclusiva mas prioritária, cujo
âmbito deve ser progressivamente alargado. Não
porque ele seja um fim em si mesmo, mas por ser a
chave da futura integração dos portadores de
necessidades especiais na sociedade.
Este último aspecto é muito importante, visto sabermos
que todos os cientistas da área da Antropologia são
unânimes em afirmar que o ser humano só se
desenvolve no meio dos seus semelhantes.
A educação especial foi definida pela UNESCO
como sendo “aquela dos que se desviam física ou
mentalmente, emocional ou socialmente dos
grupos relativamente homogéneos do sistema
regular de educação, de modo que é necessário
tomar providências especiais para corresponder às
suas necessidades”(19)
.
Presentemente, pode-se dizer que o objectivo
fundamental da educação especial é permitir ao
indivíduo com necessidades especiais um
desenvolvimento máximo das suas aptidões
intelectuais, escolares e sociais, originando, desse
modo, a integração de todos os cidadãos na vida em
comunidade.URBANO MORENO MARQUES, JOSÉ ALBERTO MOURA E CASTRO, MARIA ADÍLIA SILVA

proporcionadas condições que lhes permitam atingir
as seguintes metas (5)
:
– cuidar de si;
– tornar-se independente no quotidiano;
– participar na vida familiar e em actividades de
tempos livres;
– manter contactos sociais;
– obter rendimento nos estudos e no trabalho;
– manter relações afectivas e vida sexual;
– poder assumir o papel de progenitor.
Podemos dizer, numa linguagem simplista, que é
através da segurança social, da educação, da
formação profissional e do emprego, entre outros,
isto é, da reabilitação, que essas condições poderão
ser desenvolvidas e que poderá ser encontrado o
verdadeiro enquadramento da pessoa com
necessidades especiais na sociedade.
Postas as coisas deste modo, devemos actuar, por um
lado, ao nível da prevenção e, por outro, assegurar a
cada pessoa o usufruto de todo e qualquer serviço de
reabilitação, sempre com o espírito de que o meio
social faz parte integral do processo.
Todavia, a palavra reabilitação não teve sempre o
mesmo significado ao longo da história da
humanidade.
A prática tradicional considerou-a como sendo um
modelo de terapias e serviços destinados às pessoas
deficientes, numa estrutura institucional, muitas
vezes sob a égide da autoridade médica.
Esta situação tem sido gradualmente substituída por
programas que, embora continuem a prestar serviços
médicos, também contemplam serviços sociais e
pedagógicos qualificados.
Para a organização Reabilitação Internacional, o
conceito de reabilitação deve ser entendido como
“um processo em que o uso combinado e
coordenado de medidas médicas, sociais,
educacionais e vocacionais, permite aos indivíduos
com deficiência alcançar níveis de funcionamento o
mais elevados possível e, em simultâneo, se
integrarem socialmente”(15)
.
Em Portugal, em Maio de 1989, é proclamada a Lei
de Bases da Prevenção e da Reabilitação e Integração
das Pessoas com Deficiência (Lei nº9/89), a qual
concebe a reabilitação como sendo “um processo
global e contínuo destinado a corrigir a deficiência e
a conservar, desenvolver ou restabelecer as aptidões
e capacidades da pessoa para o exercício de uma
actividade considerada normal. Engloba um conjunto
variado de acções de prevenção, de reabilitação
médico-funcional, de educação especial, de
reabilitação psico-social, de apoio sócio-familiar, de
acessibilidade, de ajudas técnicas, de cultura, de
desporto e de recreação, entre outras, que se
destinam ao deficiente e que visam favorecer a sua
autonomia pessoal”.
Assim, reabilitar perdeu o seu significado restrito de
“habilitar de novo”. Do tornar o deficiente capaz de
realizar novamente uma tarefa, passou a reabilitação a
ser encarada como um processo que visa a integração
total da pessoa com necessidades especiais.
Por outro lado, a educação especial acompanhou
muito de perto a evolução do conceito de deficiência.
Começou com características essencialmente
assistenciais, desenvolveu-se ao longo dos tempos e
hoje procura manter o indivíduo em processos
educativos normalizados, através da sua integração.
Este conceito de inclusão só será significativo
quando for entendido como a solução, não
necessariamente exclusiva mas prioritária, cujo
âmbito deve ser progressivamente alargado. Não
porque ele seja um fim em si mesmo, mas por ser a
chave da futura integração dos portadores de
necessidades especiais na sociedade.
Este último aspecto é muito importante, visto sabermos
que todos os cientistas da área da Antropologia são
unânimes em afirmar que o ser humano só se
desenvolve no meio dos seus semelhantes.
A educação especial foi definida pela UNESCO
como sendo “aquela dos que se desviam física ou
mentalmente, emocional ou socialmente dos
grupos relativamente homogéneos do sistema
regular de educação, de modo que é necessário
tomar providências especiais para corresponder às
suas necessidades”(19)
.
Presentemente, pode-se dizer que o objectivo
fundamental da educação especial é permitir ao
indivíduo com necessidades especiais um
desenvolvimento máximo das suas aptidões
intelectuais, escolares e sociais, originando, desse
modo, a integração de todos os cidadãos na vida em
comunidade

Verificamos nas últimas décadas, devido a mudanças
da sociedade e da vontade política dos órgãos de
poder, um desenvolvimento da educação especial
tanto a nível quantitativo (número de serviços oficiais
e privados, número de professores, técnicos
especializados e alunos apoiados, orçamentos
envolvidos, etc.) como qualitativo (novas tecnologias,
formação superior de professores, grande diversidade
e melhor apetrechamento dos serviços).
Toda esta evolução deve-se não somente ao avanço
tecnológico e da medicina, mas também ao aumento
da legislação, à intervenção precoce, à
implementação da educação pré-primária, ao
prolongamento da escolaridade obrigatória e ao
importante papel desempenhado pelas famílias que
vêm reivindicando, ao longo do tempo, uma
melhoria do atendimento a esta população.
Actualmente, tudo aponta para que tendo o aluno
necessidades educativas especiais, ou não, não
existam diferenças significativas quanto aos
objectivos escolares finais, com excepção daqueles
que tiverem maiores dificuldades de aprendizagem,
os quais poderão ser encaminhados para a
frequência de currículos adaptados ou alternativos.
Com a aquisição de autonomia e independência
criaram-se as condições para a integração do aluno
com necessidades educativas especiais no sistema
educativo regular, o qual deve estar apto a receber
todas as crianças em idade escolar e não apenas
algumas (escola inclusiva).
A participação de todos não é apenas desejável do
ponto de vista social e moral, mas também do ponto
de vista funcional. Assim sendo, o melhor caminho a
seguir tem que ser encontrado por todos nós.
OBJECTIVAÇÃO
Os trabalhos realizados por este Gabinete
(monografias, dissertações de mestrado e trabalhos
de docentes, entre outros) demonstram uma
cobertura alargada de várias áreas.
Através de uma leitura QUALITATIVA E
QUANTITATIVA dos 232 trabalhos dos últimos dez
anos, por categoria, tentamos encontrar as principais
conclusões e a linha evolutiva recolhida pela
frequência e dimensão anual dos trabalhos.
Parece claro que existem três grandes áreas de
preocupações:
– Terminologia e conceitos
– Definição da população com Necessidades Especiais
e relação desta com a Actividade Física Adaptada
– Problemas do desporto (vertente do ensino, da
competição e da recreação).
A terminologia e os conceitos foram estudados
seguindo a evolução internacional, que considera
Actividade Física Adaptada como a designação mais
consensual (internacional e nacional).
Os conceitos que emergem da Declaração de
Salamanca e trabalhos posteriores, apontam para a
designação Necessidades Especiais, abrangendo toda
a população, independente da idade, que apresenta
problemas de acesso a um qualquer sistema social,
nomeadamente escolar e desportivo.
Têm ainda sido estudadas as condições da inclusão
(escolar e desportiva), condições de acesso e de
adesão ou afastamento do desporto de indivíduos
com necessidades especiais e a formação necessária e
suficiente dos profissionais da área.
Uma preocupação complementar tem sido a análise
da legislação (conteúdo e omissões), bem como da
sua implementação e interpretação local.
Na área da definição da população com Necessidades
Especiais e a aplicação da Actividade Física
Adaptada, emergem as preocupações com os
aspectos classificativos, tendencialmente criticando a
classificação médico-psicológica e propondo
classificações com suporte pedagógico.
Sublinha-se a cobertura efectuada por revisões
bibliográficas, de um grande número de patologias e
o papel da actividade física (na prevenção e
reabilitação), concluindo todos os trabalhos da
importância da actividade física e da necessidade de
se efectuarem estudos no terreno.
Uma outra linha que tem surgido mais recentemente é
a que se refere à qualidade de vida da população com
Necessidades Especiais e da sua relação com a saúde.
Aparecem também com grande frequência os
estudos da relação entre a necessidade especial e o
rendimento (académico e/ou desportivo).
Dizendo respeito à área específica do desporto,
verifica-se uma preocupação diversificada com a
avaliação motora (formal e informal, classificativa ou
avaliativa), gerando-se o consenso da sua imperiosa
necessidade efectuada com rigor e sem preconceitos.
Vários trabalhos procuraram verificar as melhores
condições e os programas mais eficazes para o
ensino de áreas específicas, bem como estudar a
aptidão física de vários tipos de população.
Efectuaram-se trabalhos sobre aplicações específicas
do ensino de algumas modalidades desportivas e os
problemas relacionados com a competição.
Mais recentemente foram aparecendo vários
trabalhos dirigidos à recreação, sua importância e
formas organizativas, tendo-se verificado que existe
ainda uma aderência baixa, estudando-se as razões e
concluindo-se pela grande relevância e futuro desta
área para a população com Necessidades Especiais.
Foram estudadas as condições de acessibilidade dos
deficientes a vários locais desportivos, verificando-se
que existem maioritariamente estruturas que
dificultam ou mesmo inviabilizam a prática
desportiva.
Realizaram-se trabalhos sobre áreas psicológicas
condicionantes do sucesso participativo no desporto,
parecendo que as diferenças da restante população
não são problemáticas sendo o desporto um
excelente meio de promoção do sucesso psicológico.
Verifica-se a realização de alguns trabalhos
vocacionados para o aprofundamento de modalidades
desportivas específicas (boccia, goalball, basquetebol
em cadeira de rodas, entre outras).
Embora em número reduzido existem trabalhos de
índole mais restrito da reabilitação, designadamente
no contexto terapêutico.
Finalmente foram realizados três trabalhos
comparando a situação portuguesa com a de outros
países (Espanha, Moçambique e Bélgica).
CONCLUSÕES
Apesar do consenso sobre os principais conceitos da
área NECESSIDADES ESPECIAIS, INCLUSÃO E
ACTIVIDADE FÍSICA ADAPTADA, mantem-se em
vigor e utilização corrente e oficial, um conjunto de
termos e de conceitos, numa amalgama pouco
animadora e tendencialmente propiciadora de
confusões.
Com efeito, são termos de utilização habitual entre
outros, deficientes, desporto adaptado ou para
deficientes, integração, educação especial,
portadores de deficiência, bem como combinações
destes termos. Mais confuso se torna a utilização
indiscriminada desta terminologia porque entendida
como sinónimos de outros conceitos e não como
subdivisões específicas da área.
As Necessidades Especiais representam um
alargamento do conceito Necessidade Educativas
Especiais, sendo este mais restrito e exclusivamente
dirigido ao sistema escolar.
A Inclusão que representa uma revisão do conceito de
integração, coloca o ênfase na aceitação da diferença e
não na acentuação e discriminação pela diferença.
A Actividade Física Adaptada sublinha e congrega
todas as formas de participação desportiva de um
qualquer indivíduo, mesmo com fortes limitações da
capacidade de movimento, e seja qual for o objectivo
dessa actividade (educativo, recreativo, competitivo
ou terapêutico).
Ao considerar diferentes patologias entende-se estas
como limitadoras da normal actividade física e
procura-se conhecer a relação positiva da actividade
física com uma qualquer forma de prevenção. Podese concluir da urgência de serem efectuados estudos
de terreno, a partir das revisões bibliográficas
efectuadas que mencionam unanimemente a
relevância da actividade física adaptada.
Embora já existam vários trabalhos sobre
modalidades específicas e/ou adaptadas, bem como
sobre a iniciação desportiva (escolar e competitiva),
parece ser claramente insuficiente a produção
científica realizada. Recomenda-se a elaboração de
trabalhos por modalidade e tipo de necessidade
especial, à semelhança dos que já existem sobre
boccia/paralisia cerebral e goalball/deficiência visual.
Uma preocupação recente sobre a qualidade de vida
relacionada com a saúde mostra a interdependência
destes factores em populações com necessidades
especiais, mas indica-nos também uma preocupante
falta de participação, suas causas e motivos. Parecenos poder concluir da importância de  serem
efectuados mais estudos neste domínio.
Os trabalhos feitos sobre acessibilidades são ainda
escassos ou muito antigos, mas apontam inúmeras
lacunas, pelo que se pode concluir da urgência de se
efectuarem mais trabalhos neste sector.
Os trabalhos de natureza psicológica (como por
exemplo o estudo de: motivação, interesses, relação
entre a proficiência motora e o rendimento escolar e
ansiedade) são pouco conclusivos mas fornecem

Actividade Física Adaptada: uma visão crític
indicadores importantes, pelo que devem ser
ampliados e replicados em diferentes condições,
locais e tipos de população estudada.
Muito recentemente foram feitos os primeiros
trabalhos sobre recreação para populações com
necessidades especiais, podendo desde já, concluir
Actividade Física Adaptada: uma visão crítica
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2001, vol. 1, nº 1, 73–79
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20. Wolfensberger, W. (1972). The Principle of Normalization
in Human Services. Toronto: National Institute on Mental
Retardation
como uma vertente de grande futuro pelo seu
impacto positivo na qualidade de vida e o ainda
escasso envolvimento qualitativo e quantitativo.
Parecem ser lacunas a rever os poucos estudos sobre
aspectos técnicos, treino desportivo e materiais e
equipamentos.


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